domingo, 8 de março de 2009

Apresentação do Prof. Donarte

Estimado educando,
Inicio chamando você de educando; termo que pode lhe parecer estranho, mas que é maneira mais acertada de um professor chamar seu aprendiz, visto que “aluno” significa a= não + luno= luz; ou seja, “aquele que não tem luz”. Eu, pessoalmente, não acho que você é um ser sem luz e que vem para a escola com o único intuito de iluminar-se. Bom, mas como dizia, estimado educando, meu nome é DONARTE NUNES DOS SANTOS JÚNIOR. Sempre estudei em escolas particulares, tendo feito o meu Ensino Fundamental no Colégio Santa Família; instituição de freiras franciscanas que, na época, eram extremamente rígidas em termos de disciplina.
No referido estabelecimento adquiri uma educação cristã, Católica, bastante específica: íamos à Paróquia, fazíamos encenações da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo e coisas deste tipo. Lembro-me que, no teatro, eu sempre era o apóstolo Pedro; aquele que negou Jesus três vezes. Mas era legal porque esse papel sempre tinha falas longas e eu adorava falar!
Das pessoas que me marcaram no Santa Família, para citar apenas uma (do contrário citaria muitas pessoas), cito a irmã Núncia. A irmã Núncia era uma senhora genial. Lembro-me dela porque ela sempre me incentivou a superar os meus limites, e fez isso com a mais absoluta confiança de que eu conseguiria.
Meu Ensino Médio foi cursado no Colégio Irmão Pedro, à noite, pois, na época, eu já trabalhava e a família queria que eu fosse um bem sucedido Cientista Contábil; assim, começando com um Ensino Médio profissionalizante tudo estaria encaminhado. Mas eu nunca gostei da idéia. Eu queria fazer algo que tivesse a ver com a Terra, com o Meio Ambiente, com a Ecologia, mas que não fosse Biologia. Da mesma forma, eu queria fazer algo que não excluísse o ser humano. Diante disso a Geografia se apresentou como única solução, pois, ela estuda a biosfera sem esquecer o homem nas suas relações sociais.
Na época eu trabalhava como vendedor de livros na Livraria do Globo; época de auge de tal empresa. A filial da Rua dos Andradas, centro de Porto Alegre, recebia multidões de clientes; hoje, infelizmente está falida, e, tem a mencionada filial fechada. Como eu gostaria de continuar trabalhando, a PUCRS apresentou-se como solução, pois lá o Curso de Geografia é à noite. Prestei Vestibular e passei. Aqui cabe um esclarecimento: na época em que eu fiz o Exame Vestibular as provas eram muito mais difíceis. Pode acreditar! A prova tinha 50 questões; fazia-se a redação no domingo, e, na semana seguinte, prova de duas disciplinas a cada dia. Deste modo, o Vestibular durava quase a semana inteira: segunda, terça, quarta e quinta... Uma verdadeira Maratona!
Aprovado no Curso de Geografia, passei a me interessar tanto pela pesquisa, quanto pela licenciatura. Deixei a livraria do Globo; na verdade troquei-a por uma bolsa, um estágio que tinha por patrocinador a Universidade de Rothenburg, Alemanha. No estágio, onde tinha um estudante alemão por parceiro, aprendi muito sobre Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento (veremos o que é isso em aula). Porém, nunca deixei de me interessar pela Educação.
Graduei-me em 2002, e, em seguida, ingressei no Curso de Especialização no Ensino de Geografia (PUCRS). Terminada esta primeira pós-graduação, ingressei no mestrado em Educação em Ciências e Matemática (PUCRS), onde desenvolvi uma pesquisa que gerou uma dissertação, um trabalho escrito e que aponta formas de se trabalhar com imagens de satélite nas aulas de Geografia e como os estudantes, jovens adolescentes percebem o espaço geográfico.
Atualmente, levado ainda pelo amor aos estudos, ingressei em mais um mestrado, desta vez em Filosofia; disciplina que passou a ser muito amada por mim na medida em que me permite entender melhor a ciência, a sociedade, o mundo, enfim, a própria Geografia.
De tudo o que está escrito acima, pode-se tirar que eu sou uma pessoa que acredita na vida! Eu acredito na Educação, na Geografia e na Filosofia. Eu acredito nas pessoas, também! Creio, porém, vivamente, que o homem educado é um ser pleno em todos os sentidos; já o homem sem educação se transforma no pior dos animais. Penso que a violência que temos no mundo hoje é, em parte, além da segregação socioeconômica, causada pela falta de educação; homens sem educação, e, portanto embrutecidos andam pela sociedade praticando crimes contra as pessoas e contra a própria sociedade. Veja-se bem: eu disse contra as pessoas e contra a sociedade. Isso significa que a educação está escassa em muitas camadas sociais; desde o pobre que rouba e mata por ser pobre e por não ter uma oportunidade, até o político corrupto que rouba e também acaba matando por não ter uma educação verdadeira. Acredito, então, como se pode ver, que formação não é educação. Vi e tenho visto em muitos lugares pessoas com excelente formação, mas sem nenhuma educação. O dado e a informação são uma coisa, agora o que se faz com ambos é outra bem diferente. Penso que estamos num mundo cada vez mais repleto de dados – que muitas vezes nem chegam a ser uma informação (discutiremos isso em aula) e cada vez mais cheio de ignorância!
Como já foi dito que acredito na ciência que leciono. Como creio que ela pode ajudar na formação de uma pessoa que, depois, vai ajudar a construir um mundo melhor, devo confessar também que acredito na escola. A escola é o lugar da produção do conhecimento. Neste ponto, acredito junto com muitos outros professores, teóricos e pensadores que a escola, atualmente, não vem cumprindo com o seu verdadeiro papel. Penso que hoje, na escola, ao invés de produzirmos conhecimento, estamos reproduzindo conhecimentos. É óbvio que com isso não estou criticando nenhuma das escolas franciscanas ou maristas, mas TODAS as escolas. E digo mais, a culpa não é das escolas, a culpa é de TODA a sociedade que não vem se preocupando com a escola; assim, as escolas atuais ainda são como as de dois séculos atrás. Segundo muitos a sociedade mudou, mas a escola não!
Mas, diante disso tudo, acredito, com uma boa dose de otimismo, que a escola tem ajudado muitos de nossos jovens a encontrar o caminho ou um caminho!
Como estamos falando, caro educando, de escola, de educação e de conhecimento, devo dizer que ele, o conhecimento, tem um valor especial na minha vida. Mas atenção: não estou falando do conhecimento decorado, em dados que são sabidos “de cabeça” sem se saber para o que servem. Estou falando de conhecimento verdadeiro. Normalmente o conhecimento é considerado somente como uma atividade que resulta da razão e única e exclusivamente da razão. Desconsidera-se, quase sempre, a parte afetiva e o espírito na produção do conhecimento. Mas, para mim, o conhecimento é aquilo que processamos sobre o mundo que nos rodeia e só existe realmente quando fazemos esse processamento com a razão, e, também, com o espírito. Deste modo, eu tenho de amar algo para realmente saber sobre esse algo. Mas atenção de novo: isso não quer dizer que, por exemplo, se eu “não gostar” de Geografia eu nunca produzirei um conhecimento geográfico! Não! Até porque, acreditem, a gente aprende a gostar das coisas! Por exemplo, há pessoas que não gostam de estudar, mas isso só é assim porque elas nunca se permitiram estudar... À medida que vamos estudando, com amor, paciência e perseverança, as coisas vão se mostrando cada vez mais interessantes e passam a nos fazer bem; e, se nos fazem bem, não podemos mais viver sem elas! Assim é o estudo! É por isso que há um educador (Pedro Demo) que diz que “estudar é modo de vida”... Ou seja, estudar não é uma coisa para se fazer só na escola. Estuda-se a vida inteira; nunca pararemos e isso se transforma num modo de vida, numa coisa natural, prazerosa e feita tranquilamente sempre que uma curiosidade se apresentar.
Outra coisa que penso em relação ao conhecimento é a seguinte: o filósofo alemão Friedrich Nietzsche dizia que o maior erro da sociedade é que ela, na época dele, educava para o Mercado, o “Mercado de Trabalho”... Jovem amigo, caro educando, não caia nessa! Nunca estude para o Mercado. Nunca estude pensando no “Mercado de Trabalho”. Não devemos estudar para algo ou para alguém, devemos estudar em benefício próprio! Essa parte, de novo, requer atenção: não estou dizendo que não devemos nos preparar para sermos bons profissionais, não é isso... Apenas estou querendo dizer que nunca devemos estudar somente para isso: para sermos bons profissionais. Pense comigo: se estudamos somente para sermos bons profissionais, estamos mais preocupados em remuneração salarial do que qualquer outra coisa, e, muitas vezes, um bom salário não compensa a infelicidade de se fazer algo que não se gosta; oito horas por dia, cinco dias na semana...
Talvez seja essa a característica do mundo atual que mais me deixa triste. As pessoas são mais julgadas pelo que fazem do que pelo que são. Se julgamos alguém por aquilo que faz, estamos, então, preocupados com o status social que aquela pessoa tem. Assim, jogadores de futebol e top models são mais importantes pelos gols que fazem e pelo corpo que têm, do que pelo modo como pensam e naquilo que acreditam, ou, pela maneira como servem de modelo à sociedade.
No entanto, vejo o mundo com otimismo! Digo isso porque, ao longo da minha carreira como professor, tenho visto muitos jovens com senso crítico, capazes de dizer um sonoro não às tendências da sociedade atual. Conheci inúmeros jovens que ainda pensam em mudar o mundo, pensam em ser felizes e fazer os outros felizes para, assim, verem uma sociedade justa! Sou otimista porque conheci pessoas que estão interessadas a inverter a pergunta “o que eu quero do mundo” e perguntar: “o que o mundo quer de mim”!
Esperando, caro educando, que o presente texto possa apresentar um pouquinho mais daquilo que sou e do modo como penso, e, desejando que tenhamos um ano letivo excelente,
Despeço-me com um fraterno abraço,
Prof. Donarte (Geografia).

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